quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
A Posição Confortável (Mais Uma Lição Contra a Cultura do Jeitinho)
Estava assistindo ao filme "A Maior Luta de Muhammad Ali".
Foi nessa segunda-feira à noite. Eu vi a luta de #Ali X Foreman# e não me esqueço desse dia. Meu pai disse que iria assistir e eu até então com nove anos, não vacilei, disse que ficaria acordado para ver tudo. Foi maravilhoso. Bom demais.
Entretanto, muito jovem, não fazia ideia do que estava por trás de todo o brilhantismo de Ali, nos ringues. Ou, como eu gostava de chamar: Cassius Clay, o nome que ouvi primeiro e não me conformava por ter sido mudado. Me parecia um absurdo. Mas, a luta foi inesquecível e Cassius, me era um exemplo a ser seguido, um ídolo pois era negro e nobre.
Mas, como eu falei, não me passava pela cabeça os problemas que ele havia ultrapassado para estar ali. Atleta, ele tinha ido aos tribunais e ganhou, junto a justiça, o direito sagrado de trabalhar. Entrar, outra vez, em um ringue para defender seu título de campeão mundial.
O filme é maravilhoso. A história que descreve toda as discussões e histórias que os juízes da corte suprema americana vivenciavam foi muito bem contada. Entretanto o que me chamou atenção foi a palavra de Cassius, após ser interpelado por um jornalista, sobre o fato dele resolver não entrar na justiça em busca de reparação pessoal, depois de ter tido a certeza de que ganhara a apelação na corte e que já estava livre para trabalhar. Uma vez que seria comum um injustiçado pedir reparação. Ele disse: " Eu não entrei na justiça porque não seria certo. Eu estaria sendo hipócrita se fizesse isto. Eu queria que eles me compreendessem e que aceitassem a minha posição. Eles tinham o direito de me punir se achassem que eu estava fazendo algo contra a lei deles. O que eu queria, era provar que não estava fazendo nada errado, só defendendo minha opinião sobre a guerra e que por esta posição eu merecia respeito e não teria porque fazer parte de tal luta. Eles entenderam e eu estou livre para entrar outra vez num ringue. Eles entenderam que eu não estava errado, seria hipocrisia pedir reparação por uma coisa que eu sei que não era pessoal."
Aí me veio a cabeça a pergunta que não quer calar: por que tem tanto jornalista contra o certo? Todos sabem que o Fluminense não está errado. Que ele não pedi o absurdo, ou o infundado. Que sua direção e o desejo de sua torcida, é que seja feita a lei. Que esta seja cumprida até o fim. E sabem também, que o tribunal do STJD, está ali para fazer cumprir e julgar estas leis. Então, por que, diabos, jogam para o Fluminense uma culpa que ele não tem? Por que insistem em dizer o que não é verdade sobre o Fluminense e seus sócios e adeptos? Por que querem julgar o Fluminense e não a Portuguesa e o Flamengo?
A resposta me veio ouvnido Cassius: porque são hipócritas. O meu ídolo de infância não aceitaria ser hipócrita. Mas os jornalistas irresponsáveis, não podem aceitar a posição confortável de um time tantas vezes campeão, não podem aceitar a posição confortável do Fluminense Football Club.
Sinto, meus senhores: mas a lei é impessoal.
sábado, 4 de janeiro de 2014
Da Série: Site de Relacionamentos
Este texto eu tirei do Blog:http://caiobraz.com.br/da-relacao-direta-entre-ter-de-limpar-seu-banheiro-voce-mesmo-e-poder-abrir-sem-medo-um-mac-book-no-onibus/
Que por sua vez, também foi retirado de outro blog. Dê-em uma olhada e vamos mudar de pensamento. Vamos melhorar como pessoa.
Por Caio Braz
Excelente texto extraído do blog de Daniel Duclos, brasileiro que atualmente mora na Holanda. De uma lucidez impressionante.
A sociedade holandesa tem dois pilares muito claros: liberdade de expressão e igualdade. Claro, quando a teoria entra em prática, vários problemas acontecem, e há censura, e há desigualdade, em alguma medida, mas esses ideais servem como norte na bússola social holandesa.
Um porteiro aqui na Holanda não se acha inferior a um gerente. Um instalador de cortinas tem tanto valor quanto um professor doutor. Todos trabalham, levam suas vidas, e uma profissão é tão digna quanto outra. Fora do expediente, nada impede de sentarem-se todos no mesmo bar e tomarem suas Heinekens juntos. Ninguém olha pra baixo e ninguém olha por cima. A profissão não define o valor da pessoa – trabalho honesto e duro é trabalho honesto e duro, seja cavando fossas na rua, seja digitando numa planilha em um escritório com ar condicionado. Um precisa do outro e todos dependem de todos. Claro que profissões mais especializadas pagam mais. A questão não é essa. A questão é “você ganhar mais porque tem uma profissão especializada não te torna melhor que ninguém”.
Profissões especializadas pagam mais, mas não muito mais. Igualdade social significa menor distância social: todos se encontram no meio. Não há muito baixo, mas também não há muito alto. Um lixeiro não ganha muito menos do que um analista de sistemas. O salário mínimo é de 1300 euros/mês. Um bom salário de profissão especializada, é uns 3500, 4000 euros/mês. E ganhar mais do que alguém não torna o alguém teu subalterno: o porteiro não toma ordens de você só porque você é gerente de RH. Aliás, ordens são muito mal vistas. Chegar dando ordens abreviará seu comando. Todos ali estão em um time, do qual você faz parte tanto quanto os outros (mesmo que seu trabalho dentro do time seja de tomar decisões).
Esses conceitos são basicamente inversos aos conceitos da sociedade brasileira, fundada na profunda desigualdade. Entre brasileiros que aqui vêm para trabalhar e morar é comum – há exceções - estranharem serem olhados no nível dos olhos por todos – chefe não te olha de cima, o garçom não te olha de baixo. Quando dão ordens ou ignoram socialmente quem tem profissão menos especializadas do que a sua, ficam confusos ao encontrar de volta hostilidade em vez de subserviência. Ficam ainda mais confusos quando o chefe não dá ordens – o que fazer, agora?
Os salários pagos para profissão especializada no Brasil conseguem tranquilamente contratar ao menos uma faxineira diarista, quando não uma empregada full time. Os salários pagos à mesma profissão aqui não são suficientes pra esse luxo, e é preciso limpar o banheiro sem ajuda – e mesmo que pague (bem mais do que pagaria no Brasil a) um ajudante, ele não ficará o dia todo a te seguir limpando cada poerinha sua, servindo cafézinho. Eles vêm, dão uma ajeitada e vão-se a cuidar de suas vidas fora do trabalho, tanto quanto você. De repente, a ficha do que realmente significa igualdade cai: todos se encontram no meio, e pra quem estava no Brasil na parte de cima, encontrar-se no meio quer dizer descer de um pedestal que julgavam direito inquestionável (seja porque “estudaram mais” ou “meu pai trabalhou duro e saiu do nada” ou qualquer outra justificativa pra desigualdade).
Porém, a igualdade social holandesa tem um outro efeito que é muito atraente pra quem vem da sociedade profundamente desigual do Brasil: a relativa segurança. É inquestionável que a sociedade holandesa é menos violenta do que a brasileira. Claro que aqui há violência – pessoas são assassinadas, há roubos. Estou fazendo uma comparação, e menos violenta não quer dizer “não violenta”.
O curioso é que aqueles brasileiros que queixam-se amargamente de limpar o próprio banheiro, elogiam incansavelmente a possibilidade de andar à noite sem medo pelas ruas, sem enxergar a relação entre as duas coisas. Violência social não é fruto de pobreza. Violência social é fruto de desigualdade social. A sociedade holandesa é relativamente pacífica não porque é rica, não porque é “primeiro mundo”, não porque os holandeses tenham alguma superioridade moral, cultural ou genética sobre os brasileiros, mas porque a sociedade deles tem pouca desigualdade. Há uma relação direta entre a classe média holandesa limpar seu próprio banheiro e poder abrir um Mac Book de 1400 euros no ônibus sem medo.
Eu, pessoalmente, acho excelente os dois efeitos. Primeiro porque acredito firmemente que a profissão de alguém não têm qualquer relação com o valor pessoal. O fato de ter “estudado mais”, ter doutorado, ou gerenciar uma equipe não te torna pessoalmente melhor que ninguém, sinto muito. Não enxergo a superioridade moral de um trabalho honesto sobre outro, não importa qual seja. Por trabalho honesto não quero dizer “dentro da lei” - não considero honesto matar, roubar, espalhar veneno, explorar ingenuidade alheia, espalhar ódio e mentira, não me importa se seja legalizado ou não. O quanto você estudou pode te dar direito a um salário maior – mas não te torna superior a quem não tenha estudado (por opção, ou por falta dela). Quem seu paí é ou foi não quer dizer nada sobre quem você é. E nada, meu amigo, nada te dá o direito de ser cuzão. Um doutor que é arrogante e desonesto tem menos valor do que qualquer garçom que trata direito as pessoas e não trapaceia ninguém. Profissão não tem relação com valor pessoal.
Não gosto mais do que qualquer um de limpar banheiro. Ninguém gosta – nem as faxineiras no Brasil, obviamente. Também não gosto de ir ao médico fazer exames. Mas é parte da vida, e um preço que pago pela saúde. Limpar o banheiro é um preço a pagar pela saúde social. E um preço que acho bastante barato, na verdade.
Assinar:
Postagens (Atom)